sábado, 24 de março de 2012

FIGURAS DE LINGUAGEM


O sentido denotativo é o sentido usual, dicionarizante e literal das palavras; independente do contexto em que a palavra é usada. Ex. Perdi a chave do apartamento (chave = artefato de metal que movimenta a lingüeta das fechaduras). O sentido conotativo ou figurado é o sentido particular, “especial” que a palavra adquire em função de um contexto específico em que ela é usada. Ex: Ana tem a chave do meu coração.

1. Figuras de Palavras ou tropos: este grupo é constituído por figuras que têm sua força expressiva centrada no sentido contextual, ou seja, no sentido que as palavras, expressões e frases adquirem quando participam da constituição dos textos. São elas:

1.1. Comparação: Consiste em estabelecer, por meio de palavras comparativas (como, igual a, tal, tal qual, etc.) uma relação de semelhança entre dois elementos, atribuindo a um deles características presentes no outro. Ex: “Minha dor é inútil, como uma gaiola numa terra onde não há pássaros” (dor inútil se assemelha à gaiola onde não há pássaros, também inútil).

1.2. Metáfora: Emprego de uma palavra ou expressão com um sentido diferente do usual, a partir de uma comparação subentendida entre dois elementos. Ex: “O circo era uma balão aceso, com musica e pasteis na entrada.”

Observe: há três possibilidades de uso da linguagem figurada:

a) “A estradinha era como uma serpente entre as colinas verdes” (comparação).

b) “A estradinha era uma serpente entre as colinas verdes” (metáfora = uso do verbo ser “era” para fazer a metáfora).

c) “A estradinha serpenteava entre as colinas verdes” (metáfora = consiste em deixar implícita, na própria palavra metafórica).

1.3. Metonímia: Substituição (troca) de uma palavra por outra, quando entre ambas existe uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Tal substituição realiza-se de inúmeros modos:

a) O continente pelo conteúdo e vice-versa: “Tomamos um cálice de licor” (um cálice = o conteúdo de um cálice).

b) A causa pelo efeito e vice-versa: “Sou alérgico a cigarro" (cigarro = a fumaça).

c) O lugar de origem ou de produção pelo produto: “Comprei uma garrafa do legitimo porto" (porto = vinho da cidade do Porto, em Portugal).

d) O autor pela obra: “Ela aprecia ler Fernando Pessoa” (Fernando Pessoa = a obra de Fernando Pessoa).

e) O abstrato pelo concreto e vice-versa: “Não devemos contar com o seu coração” (coração = sentimento).

f) O Símbolo pela coisa simbolizada: “Não te afaste da cruz” (cruz = cristianismo).

g) A matéria pelo produto e vice-versa: “Lento o bronze soa” (bronze = sino).

h) O inventor pelo invento: “Edson ilumina o mundo” (Edson = a energia).

i) A coisa pelo lugar: “Vou à Prefeitura” (prefeitura = ao edifício da prefeitura).

j) O instrumento pela pessoa que o utiliza: “Ele é um bom garfo” (bom garfo = guloso).

Observe: Na metáfora, estabelece-se uma associação de idéias por meio de uma comparação subentendida (comparação mental = entre dois elementos ou seres ou fatos – ex: “a estrada era uma serpente”). Na metonímia, uma palavra é usada no lugar de outra, por haver entre elas uma proximidade de sentidos.

1.4. Sinédoque (metonímia): Substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra. Encontramos sinédoque nos seguintes casos:

a) O todo pela parte e vice-versa: “A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo” (a cidade inteira = o povo; cascos = parte das patas do cavalo).

b) O singular pelo plural e vice-versa: “O paulista é tímido” (paulista = todos os paulista).

c) O indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum: “Para os artistas ele foi um mecenas” (mecenas = protetor).

1.5. Catacrese: É um tipo especial de metáfora, é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação. “folhas de livro; dente de alho; céu da boca; pé da mesa; braço do sofá; leito do rio, etc."

1.6. Sinestesia: Consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. “Olivia era atraente, tinha uns olhos quentes, uma boca vermelha de lábios cheios” (olhos = sensação visual, quentes = sensação tátil – térmica).

1.7. Antonomásia: Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, características ou fato que a distingue. ”O rei do futebol viajou para a Europa" (rei do futebol = Pelé).

1.8. Alegoria: Acúmulo de metáforas referindo-se ao mesmo objeto. “A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados...”
2. Figuras de pensamento: As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.
2.1. Antítese: Aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Ex. Amigos e inimigos estão, amiúdes, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem nos bem. Outros nos almejam o bem e nos trazem o mal.

2.2. Apostrofe: Invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na analise sintática e é utilizada para dar ênfase à expressão. Ex. “Deus! Ó Deus! Onde estás, que não respondes?”

2.3. Paradoxo: Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas de ideias que se contradizem. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. “O mito é o nada que é tudo.”

2.4. Eufemismo: Uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante. Ex.”O rapaz saltou da ponte da vida” (= morreu).

2.5. Gradação: Sequência de palavras que intensificam uma mesma idéia. Ex. “ O velho fazendeiro sentia sua influencia minguar. Os fazendeiros vizinhos, os pequenos comerciantes do vilarejo, seus próprios peões, os humildes camponeses da região, ninguém mais tinha por ele o respeito de outros tempos.” (note a carga semântica vai decrescendo: fazendeiros, pequenos comerciantes, peões, humildes camponeses, ninguém).

2.6. Hipérbole: Exagero intencional, com a finalidade de intensificar a expressividade e, assim impressionar o ouvinte ou leitor. Ex.”Rios te correrão dos olhos, se chorares.”

2.7. Ironia: Figura por meio da qual se enuncia algo, mas o contexto permite ao leitor (ou ouvinte) entender o oposto do que se está afirmando. Ex. “Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta, um amor.”

2.8. Prosopopeia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados (sem vida) características humanas ou irracionais. Ex: “Um frio inteligente... percorria o jardim.”

2.9. Perífrase: Torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico, indivíduo ou situação que não se quer nomear. Ex: “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil....” (cidade maravilhosa = Rio de Janeiro).
3. Figuras de sintaxe: As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sal ordem, possíveis repetições ou omissões.

3.1. Assíndeto: Orações ou palavras que deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem justapostas ou separadas por vírgulas. Ex: “fere, mata, derriba denodado...”

3.2. Elipse: Omissão de um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Ex: “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas” (omissão: ela ou ele).

3.3. Zeugma: Um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendido sua repetição. Ex: “Foi saqueada a vila, e assassinados os partidários dos Filipes” (supressão = “foram”).

3.4. Anáfora: Repetição intencional de palavras, no início de um período, frase ou verso. Ex: “Grande no pensamento, grande na ação, grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhecido e só”.

3.5. Pleonasmo: Repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado. Ex: “Morrerás morte vil na mão de um forte.”

3.6. Polissíndeto: Repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção “e”). Ex. “E saber, e crescer, e ser, e haver, e perder, e sofrer, e ter horror.”

3.7. Anástrofe: Simples inversão de palavras vizinhas (determinante x determinado). Ex. “Tão leve estou que já nem sombra tenho.” (tão leve estou = estou tão leve).

3.8. Hipérbato: Inversão complexa de membros da frase. Ex. “Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.”(= as belas passeiam na avenida á tarde).

3.9. Anacoluto: Interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alternando-lhe a sequência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem função sintática definida. Ex. “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.”

3.10. Silepse: a concordância não é feita com as palavras, mas com a ideia a elas associada. Temos:

a) Silepse de gênero: Discordância entre os gêneros gramaticais (feminino e masculino). Ex. “V. Exª. parece magoado” (V. Exª = magoada).

b) Silepse de número: Discordância envolvendo o número gramatical (singular e plural). Ex: “Corria gente de todos lados, e gritavam.”

c) Silepse de pessoa: Discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal. Ex: “Os brasileiros somos responsáveis pelo meio ambiente.”

4. Figuras de som: chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons, ou ainda quando se procura “imitar” sons produzidos por coisas ou seres.

4.1. Aliteração: Repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra. Ex: “Toda gente homenageia Januária na janela”(som do Ge/ já).

4.2. Assonância: Repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema. Ex. “ A ponte aponta/ e se desaponta./ A tontinha tenta/ limpar a tinta/ ponto por ponto/ pinta por pinta...”(repetição da vogal “o”, “i”).

4.3. Paronomásia: Reprodução de sons semelhante sem palavras de significações diversas. Ex: “Que a morte apressada seja tributo do entendimento, e a vida larga atributo da ignorância.”

4.4. Onomatopeia: Uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som. Ex. “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-, eterno.”


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