sábado, 26 de maio de 2012

VOCÊ SABIA?


Você sabia que Amadeu Thiago de Mello, amazonense de Barreirinha, abandonou o curso de Medicina no quinto ano para dedicar-se à poesia?
Carlos Drummond de Andrade, depois de ver os poemas de Thiago de Mello, alertou-o sobre os inconvenientes de deixar os estudos para se arriscar numa carreira literária. Drummond o apresentou a Manuel Bandeira, que recomendou a publicação de um dos seus poemas no jornal Correio da Manhã. Porém, o primeiro livro, Silêncio e Palavra, só foi publicado em 1951, sendo reconhecido pelos críticos literários da época.
A primeira fase da sua poesia é intimista e existencial, embora possamos perceber nela a importância da natureza e da floresta como elementos de poder metafórico constantes em seus poemas. Sua obra retrata os sentimentos mais íntimos de forma simples e lírica, mas de forte vocação social, assim como sua própria vida.
Thiago de Mello foi uma das vozes mais ativas em defesa da Floresta Amazônica. No auge da seca de 2005, o poeta resumiu numa frase o sentimento daqueles que, como ele, gostariam de salvar um bem precioso: "A floresta tem a vocação da dádiva, gosta de entregar, de ser bondosa para com seus filhos. Mas gosta de ser bem tratada e respeitada. Ela gosta de ser usada, mas não abusada."

O ANIMAL DA FLORESTA

De madeira lilás (niguém me crê)
se fez meu coração. Espécie escassa
de cedro, pela cor e por conter
no seu âmago a morte que o ameaça.
Madeira dói?, pergunta quem me vê
os braços verdes, os olhos cheios de asas.
Por mim responde a luz do amanhecer
que recobre de escamas esmaltadas
as águas fundas que me deram raça
e cantam nas raízes do meu ser.
No crepúsculo estou da ribanceira,
entre estrelas e o chão que me abençoa
as nervuras. Já não faz mal que doa
meu bravo coração, de água e madeira.                            
(Thiago de Mello)

RUMO

Somente sou quando em verso.
Minhas faces mais diversas
são labirintos antigos
que me confundem e perdem.

Meu pensamento perfura
muros de nada, à procura
do que não fui nem serei.

Ante a carne fêmea e branca
meu corpo se recompõe
ofertando o que não sou.

Meu caminhar e meus gestos
mal e apenas anunciam
minha ainda permanência.

Para chegar até onde
não me presumo, mas sou,
sigo em forma de palavra.
(Thiago de Mello - De Silêncio e Palavra)

POEMA CONCRETO

O que tu tens e queres
saber (porque te dói),
não tem nome. Só tem
(mas vazio) o lugar
que abriu em tua vida
a sua própria falta.

A dor que te dói pelo avesso,
perdida nos teus escuros.
É como alguém que come
não o pão, mas a fome.

Sofres de não saber
o que não tens e falta
num lugar que nem sabes.
Mas que é na tua vida,
quem sabe é  em teu amor.

O que tu tens, não tens.
(Thiago de Mello - De Vento Geral)

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