Escrever nem sempre foi uma atividade destinada às mulheres. No período colonial, os poucos textos escritos por mulheres não foram divulgados entre o publico letrado, seja porque a maioria delas não escrevia ou, se escrevia, os textos não apareciam. A razão, para tanto, é que apenas os homens tinham acesso à educação formal fornecida em seminários de várias ordens religiosas e não em universidades, cuja criação em terras brasileiras fora proibida pelo reino português. Além disso, o ensino escolar era eloqüente, retórico e imitativo, elitista e ornamental, voltado para a perpetuação de uma ordem patriarcal, estamental e colonial.
Havia, também, a possibilidade do autodidatismo, forma de educação não formal, em ambiente doméstico, onde a distribuição da matéria era de acordo com o sexo. Normalmente, ao homem era de praxe se ensinar a ler, a escrever e contar, e à mulher, a coser, a lavar, a fazer rendas e todos os deveres femininos, que incluía a reza. Se muitas mulheres (as sem dotes, por exemplo) eram depositadas no convento, muitas também passaram a manter escolas no próprio espaço privado, onde lhes eram ensinada leitura, música, corte e costura.
A primeira mulher escritora, cronologicamente nascida no Brasil, foi a pernambucana de Olinda, Rita Joana de Souza (1696-1718). Sua sólida formação foi proporcionada pelos pais, os quais puseram em suas mãos livros clássicos de pensadores e poetas. Memórias Históricas e Tratado de Filosofia Natural são suas principais obras, porém suas poesias não chegaram até nós, apesar de serem mencionadas por antigos autores.
Vejamos o diz J. Noberto (1998) sobre a nossa primeira poetisa:
“Breve correu-lhe a vida, passada tão suave no meio de tão desvelada educação, em que tanto se esmeraram seus pais. Mas veio o ano de 1718, e a morte, com a sua mão mirrada, ceifou tanta flor que começava a desabrochar, tanta esperança que ia realizar-se como se tudo fora um sonho, despenhando-se no fundo do sepulcro apenas na florescente idade de 22 anos.
Foi um talento precoce o da nossa primeira poetisa. Meteoro brilhante que atravessou o céu tão rapidamente que nem sequer deixou vestígios dessa passagem luminosa...
É a irmã mais velhas das poetisas do Brasil, a virgem formosa que lá está na orla do oceano em Olinda e que precedeu cantando a todas nós, com uma dianteira de quase três séculos e de quem a pátria guarda apenas o nome: Rita Joana de Sousa.
Quem eram seus pais? Quem teriam sido seus mestres? Ninguém sabe. Como seriam seus poemas? Ninguém sabe.
Que seja o seu nome cultuado por todas as mulheres de letras do Brasil.
O silêncio e o símbolo do desapreço que pairam sobre a sua obra literária são bem o símbolo do desapreço que ainda hoje é tida a inteligência das mulheres, às quais, aqui como em todas as partes do mundo, vão abrindo caminho em todos os setores das atividades humanas, indiferentes à coorte dos que fingem ignorar o seu esforço.”
Fonte:
J. NORBERTO de S.S. Brasileiras Célebres. Brasília-DF: Coleção Memória Brasileira, Editora do Senado Federal, 1998.
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